Crazy Legs
Author: Alex Beserra
Imagine você voltando no tempo, mais precisamente na década de 1950: o vrummmm das motos e os cadillacs que percorrem pelas ruas, no comando dos jovens, com seus topetes e suas jaquetas de couro, o pavor das senhoras idosas e um verdadeiro "hell" para sociedade, era a rebeldia em ascenção! Eles eram, simplesmente, os donos do mundo! "Be Bop A Lula, she's my baby!", "Let's Rock! Everbody, let's Rock!", os gritos de uma nova e eterna geração, eram os primórdios do Rock N' Roll! Uma tradição que ainda prevalece nas mãos de bandas undergrounds, como é possível notar na musicalidade do Crazy Legs.
Formada atualmente por Fábio McCoy (bateria), Sony Rocker (baixo) e Carl Horton (vocal e guitarra), o Crazy Legs é uma banda de Rockabilly, gênero musical dos anos 50, que resgata, ou melhor dizendo, mantém viva essa sonoridade clássica. Começaram a carreira em 1996, o 1° álbum foi lançado em 2001 (Off Society Rules), e depois dele vieram mais quatro, um deles gravado ao vivo (Live To Win - 2002), sem contar com as participações em coletâneas brasileiras e gringas de Rockabilly. O trio é a maior referência do gênero no Brasil, divulgando a cena tanto pelo nosso país quanto fora dele.

Como foram os shows em Goiânia?
Os shows de lá foram bacanas, porque é um lugar que a gente já costuma tocar,de um ano pra cá, e a gente criou um público desde a primeira vez que tocamos, no Goiânia Noise em 2002. Então foi meio que... consolidando o público, porque ficamos alguns anos sem ir pra lá. Mas agora, de um ano pra cá, estamos indo com uma periodicidade doida! Geralmente os shows acontecem no Boishoi (Boishoi Pub), que não é um lugar de tradição "undergorund", mas nós estávamos fazendo lá e uma boa parte da galera do underground, que gosta de Rock, de boa música, comparecia, por ser um lugar bacana.
Chegou a rolar shows gratuitos nessa passagem?
Gratuito que nós fizemos foi só o primeiro Goiânia Noise, mas depois disso... até porque a gente vive de banda, de música. Então não houve nenhum gratuito mesmo. Os últimos foram no dia 29, 30 e 31 numa cidadezinha chamada Inhumas, e depois fizemos mais três, que foram pagos.
Dentre todas as turnês que você fez ao longo da carreira, quais lugares do Brasil dão a impressão de não ter Rock, mas surpreedentemente tem?
Palmas, no Tocantis. Quando fomos pra lá pensamos: "Meu! O que vai ter em Palmas? Um estado novo e uma cidade que não tem nem 18 anos!". Mas chegamos lá, tivemos que fazer duas noites, a primeira foi lotada e a segunda mais ainda. E foi um dos lugares mais bacanas que a gente já tocou, um lugar que nós não esperávamos nada e acabaram sendo grandes shows. Outro lugar que nos surpreendemos foi em Campo Grande.
O Rockabilly é um tipo de música underground, assim como o Hard Core por exemplo, e hoje o Hard Core é a sensação do momento. Qual seria sua reação se o Rockabilly atingisse esse reconhecimento no Brasil? E isso é uma meta pra vocês?
Olha, o Rockabilly é um som que está há cinquenta anos no mais absoluto underground, ele teve a sua popularidade de três anos na década de 50...mas eu não gostaria que a música Rockabilly fosse, não só o Crazy Legs mas também as outras bandas, tipo, "o ritmo do próximo verão", sabe? Sei lá, tipo, Nx Zero e essas coisas assim, sair na rua e ser esculachado pelos outros "Oh, os caras!" [risos], entendeu? Ou senão fazer a abertura da Malhação, sabe? Eu não queria que fosse assim, então está bom do jeito que está.
Pra se ter uma banda de sucesso, a melhor alternativa é fazer algo totalmente diferente, como é o caso do Crazy Legs, ou seguir a moda?
Bom, se você quer sucesso imdediato e fácil, o negócio é você seguir uma moda, uma tendência, um corte de cabelo, aprender a tocar uns acordes , fazer uma letra pegajosa, ter um bom produtor, e não necessariamente ser um bom músico, sabe? Agora, assim, boa música não é sinônimo de ter um bom produtor e uma grande gravadora por trás. Tem que ter força de vontade, persistência, e tem muita gente que faz um som legal com recursos não tão favoráveis. Então você tem que ver o que você quer, fazer o que te agrada e depois por conseqüência agradar aos outros, ou apenas ganhar dinheiro com isso, apenas um trabalho seguindo uma proposta. No nosso caso temos uma proposta, a gente gosta do que a gente faz e é por aí.
Durante a formação do Crazy Legs, foi difícil encontrar músicos que se enquadrassem com o perfil da banda e com a linha de som que vocês fazem?
Nós já trocamos de formação três vezes, e sempre troca de vocalistas. Então a gente sempre mudou a cara da banda. Foi complicado porque no primeiro cd era um vocalista, nos três sucessores é outro, e nesse último compacto que lançamos no ano passado já é outro vocalista. Então é assim, sempre quando se trata de encontrar bons músicos "de Rockabilly" é bem complicado. Nós fizemos testes... que nem no caso do Joe (Joe Marshall, ex-vocalista do Crazy Legs), nós já o conheciamos, já sabiamos do talento e do potencial dele e aí começamos a trabalhar juntos. Com o Carl também houve uma indicação, mas antes havíamos feito testes e foi bem complicado também, não passou ninguém na época. Não que nós somos os melhores do mundo nem nada, mas porque é difícil mesmo encontrar alguém que toque bem Rockabilly e se proponha a fazer isso inteiramente.
Vocês não tem dificuldade com relação à espaço dentro da cena independente. São respeitados por onde passam mesmo quando dividem o palco com bandas totalmente diferentes. Como você explica isso?
Acho que, primeiramente, porque a gente faz um som honesto, de coração, um som que tem alma, entendeu? Inclusive fazemos questão de tocar com outras bandas justamente pra não ficar restrito somente com o Rockabilly envolvido. É Rock N' Roll, é diversão, são três notas, é basico... Não fazemos tanto barulho quanto uma banda de Hard Core, mas a gente consegue agradar pessoas de 8 à 88 anos. Já tocamos em bazar, de senhoras idosas, pra caridade, já tocamos no Hangar 110, já tocamos com banda de Black Metal, e foi a mesma coisa. Em 2002 gravamos com o Hateen e com o Street Bulldogs, que são bandas de Hard Core, e na ocasião tinha mais o público deles, mas nós acabamos ganhando essa galera, na honestidade. Foi devagar, mas nós conseguimos. E a cada dia nós fazemos isso, querendo sair na ceninha do tipo Rockabilly. O negócio é tocar, fazer som pra todo mundo porque isso é o que importa. E divulgar o Rockabilly, que é o som que a gente mais gosta no mundo.
Vocês falam sobre o que nas letras das músicas? Há, também nas letras, essa influência das bandas de Rockabilly dos anos 50?
Também, existe nas letras as influências desses grupos, desses artistas dos anos 50. Mas no geral existe também um pouquinho das nossas experiências de vida, sabe? Tipo, com meninas, com desgostos... então não chega a ser uma coisa do tipo "Emobilly" [risos]. Mas, sei lá, fala da vida, de pessoas que a gente conhece. Lógico que há também aquela temática dos anos 50 e tal, mas nós também não somos americanos pra falar só de Cadillac, de Milk-Shake, de Hamburger, entendeu? Então no geral, é a mesma temática das bandas de Rockabilly, mas a gente procura acrescentar uma pitada à mais, que são as coisas da vida real.
Acaba sendo uma pitada "brasileira"?
Assim... mais ou menos. Nós somos brasileiros, não existe nenhum estrangeiro na banda, então acaba sendo isso. Mas nada relacionado à temática local, digamos assim. Na verdade nós fazemos uma adaptação, até porque o nosso maior público ainda é lá fora, com a cena Rockabilly da Europa, dos EUA, do Japão, então fazemos uma adaptação para os dois públicos.
Todos os trabalhos do Crazy Legs foram produzidos por vocês mesmos, exceto o 'LiveTo Win (2002)'. Vocês gostam dessa liberdade de produzirem os próprios discos?
Sim, a gente prefere isso. Sabemos aonde dói o nosso calo ali, sobre o que fazer, sabemos do nossos timbres, e é uma coisa que um produtor que não está habituado com a nossa sonoridade, o Rockabilly, não vai entender. Então a gente prefere sempre gravar e produzir os nossos próprios discos, todos eles, exceto o ao vivo que você citou. Lógico, sempre quando gravamos tem o técnico que trabalha, que também é nosso amigo, a às vezes ele dá uns pitacos na produção. Mas acredito que 98% é com nós mesmos.
Então existe a dificuldade dos produtores em lidar com o tipo música que vocês fazem?
Total, porque eles seguem uma tendência com o mercado fonográfico atual, o que vai vender e o que não vai. E nós seguimos exatamente na contra-mão dos caras, da onda fonográfica. A gente faz boa música pra quem gosta de boa música, fazemos um som que já existe há 60 anos. Procuramos recriar essas coisas, e os produtores de hoje não tem mais ouvido pra isso. Se fizéssemos um disco com um produtor no comando, seria um produtor americano ou um músico de uma banda de tradição norte-americana, alguém que já esteja habituado a fazer isso. Mas por enquanto nós mesmos levaremos a banda como produtores também.
O nome da banda, Crazy Legs, tem alguma relação com um outro grande nome do Rockabilly. Que relaçao é essa?
É o nome de uma música, de um artista que nós gostamos muito, chamado Gene Vicent, um single dele chamado "Crazy Legs". E esse nome nós escolhemos no quintal da minha casa, quando ensaiávamos lá. Na época, quando iríamos gravar um cd, que por sinal não saiu, tinhamos colocado o nome da banda de Elvis Rocker e o produtor disse: "Olha,vocês precisam trocar de nome, se não vai dar problema!", até que um dia pensamos nesse nome, Crazy Legs, e aí ele permaneceu.
Esse nome, 'Elvis Rocker', ficaria muito "na cara"?
Se a empresa Graceland, que é a empresa que retém os direitos autorais do Elvis Presley ficasse sabendo disso, eles entrariam com um processinho básico.
Comente um pouco sobre o seu projeto paralelo, 'Alex Valenzi & The Hideaway Cats'.
É uma banda que foi formada em Memphis, nos EUA, em 1993. É uma banda de Rock N'Roll anos 50, que também tem influências de R&B anos 50, do Country... a gente faz essa misturada de som nessa linha. O Sony também tem um outro projeto, um som Country, que se chama Hillbilly Combo.
Você também já tocou numa banda chamada 'Jack Jeans', que projeto é esse?
O Sony e eu somos grandes parceiros deles, então quando eles precisam a gente vai lá pra fazer o serviço. E também tem o Carl, que toca no Made In Brazil, ou seja, ele é o guitarrista solo da mais lendária banda de Rock N' Roll brasileira, 40 anos de atividade!
Você parece ser muito fiel ao tipo de música que você faz, mas já surgiu a oportunidade ou a idéia de fazer algo totalmente diferente?
Eu tocava, junto com o Sony também, numa banda de Surf Music chamada Los Tornados, que não é uma coisa muito diferente na verdade, é a mesma linhagem. Nós também fomos integrantes da banda do Kid Vinil por 6 anos, acho que foi a coisa mais diferente que fizemos.
Como surgiu o projeto do selo 'Bad Habits Records'?
Eu sempre tive o sonho de fazer um selo, por ser músico e por ser colecionador de discos, especialmente de vinil, de Rockabilly. Então pra comprar alguns discos que eu não tinha acesso no Brasil, eu tinha que escrever carta pra selos europeus e americanos, entrar em contato com colecionadores de discos pra conseguir comprá-los. Então eu queria fazer uma distribuidora pra, primeiramente, vender cd's de Rockabilly aqui no Brasil por um preço justo, porque a indústria brasileira e o próprio comércio brasileiro de discos nunca foram injustos em relação à preço de vinil, tanto com discos nacionais quanto gringos, sabe? E depois houve a necessidade de fazer o selo, de fazer meus próprios lançamentos. O primeiro lançamento foi o quarto disco do Crazy Legs (Rockabilly Riot - 2004), depois fiz uma compilação com bandas de Rockabilly do mundo todo, que se chama Rockin All Over The Place, que tem o vol. 1 e 2, e agora eu fiz o disco do Hideaway Cats (No Different Than You).Falando sobre preços de cd's, da atual crise das vendas... Como você lida com a pirataria?
Ela não afeta a minha "clientela", o meu mercado, entendeu? Afeta um pouquinho a partir do momento que aquele garoto entre 13 e 15 anos de idade não tem dinheiro pra comprar disco e a solução é baixar mp3 mesmo. Não tem jeito, certo? A mãe dele é quem vai pagar a Internet, então ele vai baixar arquivos de mp3. Geralmente essa troca de arquivos, que nem SoulSeek ou Emule, serve pra muita gente conhecer os lançamentos, a própria banda, depois ir lá e comprar o disco. Ou seja, serve também como uma divulgação. Porque geralmente quem gosta de Rockabilly, de Punk Rock, de som mais alternativo, não se contenta em ter só mp3. Nós temos aquele "conceito de álbum", no undergorund tem muito disso, o "conceito de álbum". Ou você tem o cd ou o vinil, ou você não tem nada, sabe? Então a galera não que saber quem produziu o disco, quem comprou... Enfim, é mais ou menos por aí.
Voltando ao Crazy Legs, vocês participaram de várias coletâneas, não só do Brasil, mas também do Japão, dos EUA e do México. Qual o reconhecimento que vocês tem fora do Brasil?
No exterior nós não somos uma banda de Rockabilly de grande porte, somos uma banda de médio porte. A gente é bem conhecido na Escandinávia, na Alemanha, na Espanha... em vários países europeus, no leste europeu, no Japão também, e nos EUA a gente já tem um bom público. Somos bem respeitados lá fora e acabamos sendo a única referência, junto com o Hideaway Cats, do que é Rockabilly brasileiro. Nossos discos são bem distribuidos lá fora, e nós só não conseguimos ainda fazer uma boa turnê no exterior. Mas já temos um nome, já temos um bom reconhecimento lá, como uma referência do que é Rockabilly sul-americano.
Sobre os trajes que vocês usam nos shows. Você acha que é um diferencial ou é uma coisa que não importa muito?
Pra mim o visual é tudo, porque ninguém quer ver uma banda de Rockabilly com os caras tocando, por exemplo, com o moletom da Adidas [risos]. Querem ver os caras de topete, bota, sei lá... Se não o Kiss não seria famoso, não é?
Mas então, não atrapalha?
Não, de maneira nenhuma. Pelo contrário, ajuda. Acho que atrapalharia se não existisse o visual.
Você aprendeu a tocar bateria com as mofadas do sofá da sua casa. Pra quem quer aprender a tocar, vale a pena ser auto-didático ou pra ser bom depende muito das aulas?
Eu acho assim, aprender por você é bacana. Mas se você puder ter uma ajuda, pra não passar por problemas que eu passei, durante anos, tentando evoluir e não tinha um ponto de partida, acho que é legal ter aula também. Mas no caso do Rockabilly você vai fazer por você, porque nenhum professor vai te ensinar a tocar Rockabilly, nem Psycobilly, nem nada. Normalmente ensinam a tocar Samba, Jazz e outros ritmos, mas Rockabilly, não.
E pra terminar, como estão os projetos para o futuro do Crazy Legs?
Agora nós estamos entrando no estúdio pra fazer um disco, a partir do mês que vem. Após o lançamento do disco vamos pra Europa fazer uma pequena turnê, uma turnê de promoção do disco. Basicamente esses são os principais projetos que estamos em foco: o disco, a turnê pela Europa, depois tocar bastante e continuar agradando à quem já gosta da gente.
Crazy Legs:
Carl Horton (Vocal / Guitarra)
Fábio McCoy (Bateria)
Sony Rocker (Baixo)
Links:
Crazy Legs
www.crazylegs.com.br
www.myspace.com/crazylegs
Alex Valenzi & The Hideaway Cats
www.alexvalenzi.net
Bad Habits Records
www.badhabitsrecords.com
Hillbilly Combo
www.myspace.com/hillbillycombo


parabénz pela iniciativa...
curto muito a banda...
e a entrevizta ficou muito boa...
ezpero q o blog se consolide...
abraçozzz...
Desde 2001 acompanho o trabalho da banda, que é tudo e muito mais do que o própio Fábio respondeu e comentou na entrevista...são originais e amam o som que fazem!
Espero que eles venham tocar aqui no nordeste este ano!
Abraço...