Claustrofobia e Instant Hate

Author: Alex Beserra


No último sábado, dia 08/11/2008, Carapicuiba recebeu um dos maiores nomes do Metal brasileiro atual: Claustrofobia. O show foi realizado na Toca da Baleia, uma nova casa de shows na cidade.
A primeira banda a se apresentar foi o Hate Again. Formada há 4 meses, era o primeiro show dos caras. Uma banda de metal que apresentou um repertório variado entre covers e músicas próprias.
A segunda banda da noite foi o Instant Hate, que fez um show digno de uma grande banda de thrash metal que terá uma carreira muito promissora pela frente. O quinteto de Carapicuiba, que está na ativa desde 2005, já é bem conhecido na cena independente local. Estavam em casa e fizeram um show alucinante, mostrando um trabalho próprio com uma sonoridade muito agressiva e uma presença de palco muito marcante que agitou a galera presente.
E pra fechar a noite, lá estava a principal atração da noite. Como era de se esperar, o Claustrofobia subiu ao palco e mostrou porque é uma das maiores bandas de thrash metal do Brasil. A banda tocou músicas de todos os discos, algumas novas que estarão no próximo cd que em breve será lançado, e uma cover da música da "Filho da Puta" do Ultraje A Rigor, da qual eles vem tocando nos últimos shows e foi regravada e divulgada no Myspace oficial.
Quase no final do show, Marcão (vocalista e guitarrista do Claustrofobia) fez uma singela homenagem à banda Infector Cell, levantando uma camiseta da banda, gesto que arrancou aplausos do público. O Infector Cell também seria uma das bandas de abertura do show, mas infelizmente o irmão do baixista faleceu pela manhã do mesmo dia e a apresentação da banda foi cancelada. O Hate Again e o Instant Hate também lembraram do triste acontecimento e fizeram um discurso de homenagem e solidariedade à banda.






Após o show, o frontman do Claustrofobia Marcão nos concedeu essa entrevista, falando sobre a turnê européia, novidades da banda e outros assuntos relacionados ao Claustrofobia:






Vocês fizeram uma turnê européia no passado. Como foi essa experiência?

Nós ficamos cerca de 2 anos batalhando pra concretizar o plano de sair do país e fazer uma coisa legal, sem entrar numa roubada pra não prejudicar o nome da banda, porque nós estamos há muito tempo juntos e tinhamos que colocar o pé no chão e saber da nossa realidade. Ficamos lá por 4 meses, fizemos 25 shows, o que é pouco se levar em consideração o tempo que ficamos por lá. Mas o objetivo dessa turnê, além de tocar, era aprender e viver um pouco no meio da cena do Metal. Não houve ambição, foi mais por aprendizado mesmo, conviver com pessoas de outros países, conhecer novas culturas, ver como as coisas funcionam por lá, o que é bem diferente do Brasil, e cada lugar que você vai é diferente...Enfim, essa primeira turnê fora do Brasil foi muito importante, também pelo lado comercial e também pra gente ter mais contatos. Ano que vem estaremos lá novamente, de um jeito mais profissional, mais direto, mais rápido e com um significado maior.

Com o sucesso do Sepultura no exterior, os gringos vêem as bandas de thrash metal brasileiras de uma maneira diferente? Há um impacto maior?

O Sepultura é um fenômeno, é uma banda que começou na humildade e nenhuma outra banda brasileira conseguirá o que eles conseguiram. Ninguém nunca vai ser igual ao Sepultura. Os caras chegaram aonde chegaram e além do reconhecimento que ganharam estão do lado de nomes como Metallica, Slayer e Pantera...Não é qualquer um, sabe? Talvez nem eles mesmo consigam voltar àquele patamar, porque é uma coisa única. Em qualquer lugar do mundo que você vai, quando as pessoas lembram de Brasil, falam de Ayrton Senna, Pelé e Sepultura. Então quando chega uma banda brasileira, os caras tem uma curiosidade. Mesmo que muitos brasileiros queimem o filme e muita banda de merda vai lá, os gringos dão uma atenção maior às bandas do Brasil. Aí vai de cada um representar com dignidade o que o Sepultura ensinou pra nós.

Você acha que há muita diferença entre o público do Brasil e o público do exterior?

No geral headbanger é tudo igual, no mundo inteiro rola uma identificação semelhante. Apesar da cultura, que é diferente, a paixão pelo som é a mesma. Particularmente nós que somos brasileiros, adoramos tocar no nosso país porque o público do Brasil é realmente muito foda, sabe? Mas lá também é muito bom. Às vezes você tocar num lugar que a galera não agita, mas você vê todo mundo prestando atenção no som e apreciando cada nota que você toca na sua guitarra, prestando atenção no batera, no vocal...Então rola um reconhecimento, sabe? Tá certo que cada país tem uma situação diferente, um governo ou uma economia...Mas quando há uma identificação entre banda e público, não há diferença. A paixão é igual.

O Claustrofobia regravou "Filho da puta" do Ultraje A Rigor, divulgou no Myspace e agora estão tocando essa música nos shows. Como surgiu essa idéia?

Então cara, além da letra ser do caralho eu escuto essa música desde quando eu era pequeno. Eu tinha uns 8 anos de idade, ouvia essa música e adorava. E ela sempre marcou a minha vida, ficou na minha cabeça, e conforme os acontecimentos eu nunca esqueci dessa música. Comecei a ouvi-la de novo, vi que era uma música de rock n' roll, o Ultraje sempre foi uma banda inteligente que fez umas letras na ironia, mas sempre falando verdades e com muita inteligência, entendeu? E é uma banda de rock n' roll, o Roger é um cara muito inteligente e a letra dessa música continua representando a nossa realidade. "Morar nesse país é como ter a mãe na zona"...É uma zona essa porra, tá ligado? Está cada vez pior! O que vale nessa porra aqui são as amizades, a camaradagem, é tocar, entendeu? Enfim, é uma puta letra, a música é muito legal e é isso! A gente gosta é de música!

Você fez uma paticipação no vocal da música "Desordem" , da banda de thrash metal Caoscentria. Qual a sua relação com a banda?

Já faz um tempinho que rolou essa participação. Essa banda é de Embu Guaçu e nós fizemos alguns shows com eles num lugar perto do Guarapiranga, eles tocavam lá e mandavam bem pra caramba, uns moleques maloqueiros... A gente gosta de valorizar essas bandas que tocam com tesão e simplesmente por amor à música, entendeu? E os caras eram gente boa, agitou um show pra nós, sempre colava com a gente, trabalhou com a gente num show em Ribeirão Preto. Aí eles me chamaram pra cantar e eu vou com prazer quando eu vejo uns moleques que tocam legal, gostam de um som de atitude...a gente vai lá e é nóis!

Como foi tocar no Rock Humanitário?

Foi loucura! Festival é sempre uma loucura! Muitas bandas tocando, uma atrás da outra, confusão, desorganização, organização...Mas o Claustrofobia é sempre assim, aonde a gente vai as coisas são meio complicadas, nunca acontece tudo tão fácil, né? Por isso a gente dá valor à todas as coisas que a gente fez ao longo desses anos. Esse festival só serviu pra gente gostar mais do Rio de Janeiro. A gente nunca tinha tocado lá e o nosso primeiro show no Rio foi esse ano, a gente tocou em São Gonçalo e depois na capital, que foi um festival que o Rio Metal Works organizou. Gostaria até de aproveitar a oportunidade pra agradecer ao Felipe, aos caras do Rio Metal Works, eles tem um site que é o www.riometalworks.net, fizeram tudo 100%, tocamos com as bandas do Rio, o público de lá nos tratou muito bem. E nós que somos de São Paulo, todo mundo fala que rola uma rinchinha entre paulistas e cariocas e com a gente não rolou porra nenhuma. Nós somos amigos de todo mundo e fazemos o nosso trabalho da mesma maneira em qualquer lugar. E o show de Cabo Frio serviu para coroar a situação, uma cidade bonita, um festival fudido... Tocamos com o Krisiun, Ratos de Porão, Confronto, Calibre 12, só banda fudida, mano! Aí é alegria pra nós!

Dos 3 discos lançados pelo Claustrofobia, você tem algum favorito?

Cara, é uma pergunta muito difícil de responder [risos] porque de início você gosta do mais recente, mas depois com o tempo você analisa melhor e vê qual foi o mais fiel e verdadeiro, sabe? Não que a gente foi falso a ponto de não fazer algo que tenha sido do coração, mas acho que depende do momento. Hoje, o cd mais regular e que eu acho que a galera curte mais é o Thrasher, porém muita gente gosta mais do primeiro e muita gente gosta mais do último, mas o próximo é o que eu mais vou gostar.

E sobre o novo cd, quais novidades você pode adiantar? O que os fãs podem esperar dessa vez?

Então, a gente ainda não tem nada concreto, mas ele já está gravado. Estamos nos agilizando, programando uma turnê internacional, como eu disse antes. Eu não quero pegar esse cd e jogar na mão de qualquer um, sabe? Quero que ele tenha uma dignidade só pelo fato de a gente ter feito esse trabalho de coração. Nós estamos vivendo atualmente a melhor fase da banda e a fase mais crítica, então com certeza o cd vai ser forte. Na hora certa ele virá e todo mundo vai ouvir.




Depois da entrevista com Marcão foi a vez de bater um papo com Caio, baterista do Claustrofobia, junto com Bruno Rivitti, guitarrista do Instant Hate:


Qual a importância de abrir pro Claustrofobia, uma banda tão influente pra vocês e um dos maiores representantes do thrash metal nacional?

Rivitti: No cenário nacional, hoje temos bandas como Torture Squad, Krisiun, que estão estourando aí, e eu acho que o Claustrofobia é mais uma delas. Às vezes pode até superá-las porque eu sinto no Claustrofobia uma coisa que eles mesmo dizem, o tal do metal maloka, uma coisa muito mais brasileira, sabe? Que é algo que eu acho que o Krisiun, por exemplo, não tem. Essa coisa de Brasil mesmo, que era algo que o Sepultura tinha, entendeu? E isso é uma coisa que eu gosto e admiro muito.

Hoje foi uma dia muito especial pro Instant Hate, por abrir o show do Claustrofobia. Você lembra de algum show muito marcante na carreira do Claustrofobia, alguma abertura de banda que vocês admiravam?

Caio: Tivemos várias. Quando eu era moleque eu tinha o sonho de tocar com o Sepultura, e nós tocamos. Tocamos com o Napalm Death e foi muito marcante também. Pra mim, pessoalmente, dividir o palco o Sepultura foi um sonho realizado, o Sepulfest foi animal, e sem dúvida foi o que mais marcou. Mas no geral fizemos outros muito importantes também, com o Napalm, com o Destruction...Enfim, tocar com essas bandas é, além de uma experiência a mais, um sonho que você realiza.

Tem um assunto meio polêmico, sobre as pessoas que relacionam o thrash metal com o satanismo. Você acha que essa nova geração, como o Claustrofobia, tem uma temática de letra mais voltada à questões sociais, sobre o mundo de uma forma geral?

Caio: Bom, eu acho que cada banda tem seus integrantes e cada um tem a sua cabeça, sua forma de pensar e sua ideologia. Eu não sou contra nada, acho que cada um pode falar o que quiser. Mas acredito que hoje em dia tende um pouco mais ao protesto, por causa das coisas que estão aconecendo no mundo e que nós estamos vendo, então a gente se revolta e começa a escrever letras em relação à isso. Mas o lance do satanismo vai da ideologia de cada um, sabe? No nosso caso não é essa a temática, e acho que a tendência é aumentar o foco em questões sociais, pelo que o mundo está vivendo, né?

Qual a sua opinião sobre esse assunto, Rivitti?

Rivitti: Assim, eu nunca fui muito fã dessas coisas satanistas, embora eu goste de muitas bandas que tem essa ideologia, por exemplo o Slayer, banda que influenciou todas as bandas. Mas eu acho que isso foi uma fase, acredito que a nova fase do thrash metal e até de outras variações do metal deixou isso para trás. É uma coisa que em alguns casos soa legal, mas já é uma coisa meio repetitiva. E às vezes tem um integrante de uma banda que tem uma religião diferente dos outros da banda, então eu acho errado uma banda toda seguir uma linha. Se toda banda acredita em uma determinada temática, tudo bem. Agora com um integrante que acredita em uma temática diferente, acredito que foge do padrão.


Links

1 Response to “Claustrofobia e Instant Hate”

  1. portilho

    IAE!!!!
    Realmente o show foi foda...
    Obrigado pelos elogios, é sempre bom ter o trabalho reconhecido positivamente.

    Abraços


    Rafael Portilho - Instant Hate


Leave a Reply